Despertador tocou, é hora de acordar: tônico facial, água micelar, hidratante anti sinais, protetor solar, BB cream, lip balm e água termal para fixar.
Fim do dia, é hora de dormir: remove todas as impurezas acumuladas, limpa, esfolia, hidrata, não esquece de dar atenção para área dos olhos e dos lábios, pois são sensíveis!
Ufaaaa…! A rotina "basiquinha" acabou… por hoje.
Para dialogar sobre as experiências de autocuidado, faz-se necessário ampliar nossa percepção sobre o cuidado em sim - que começa com nossas experimentações com o mundo, e que vem a ser uma "bússola" para o caminho da tomada de consciência e atribuição de sentido em relação à compreensão sobre as diferentes maneiras de cuidar de si, em que denominamos também de autocuidado.
O ato de cuidar nos remete a um estado de observação, que se torna inerente ao processo. Seja essa observação interna ou externa ao indivíduo, nesse estado é indispensável estar atento às necessidades. Aqui se destacam, primordialmente, as que nos atravessam de forma particular e atribuem significados para nossas experiências, na busca por pertencimento e completude.
No tocante ao sentido do cuidado, este está conectado intimamente com nossos processos vivenciais, que funcionam como instrumento de retomada ou construção nos caminhos para si mesmo. Através da reflexão, nos voltamos para um olhar mais atento à experiência, estando em contato com o real, e não com o ideal.
No momento presente, observa-se um movimento constante quanto à definição e engessamento dos conceitos e processos que envolvem o autocuidado - este que se tornou um parâmetro significativo para nossa avaliação de bem-estar físico, emocional e social, e é por vezes resumido ao “skincare”, proporcionando uma experiência de contato com o ideal, socialmente definido.
Contando com a excessiva quantidade de estímulos diários a que somos expostos, as determinações socialmente desenvolvidas são aceitas, e tornam-se padrões, ganhando espaço de valor e significado em nossa experiência, anulando e sublimando perspectivas individuais.
Existe uma linha bem tênue que separa nossas necessidades das do mundo exterior, e facilmente confluímos e nos misturamos com tendências, hábitos e comportamentos que são eminentemente do outro. E um passo importante em busca da compreensão das nossas subjetividades é estar atento.
Quando ao longo da construção do processo de autocuidado, observo, reconheço, respeito e atendo às necessidades que se apresentam, que são únicas e tão somente suas, torno possível a experiência de estar enxergando com a lente da minha própria existência, estabelecendo uma relação de contato genuína.
Assim, o cuidado, impelido pelo autocuidado, se entrelaça de sentido, de experiência, acendendo compreensões sobre o papel de ser e estar no mundo, movimentando-se em prol da construção da sua rotina de autocuidado, baseado essencialmente no seu próprio caminho.
Cada ser-no-mundo, singular, é um eterno vir-a-ser, está sempre em construção e mudança, e é também um ser de possibilidades e potencialidades, que serão exploradas e compreendidas ao longo da vida, à medida que nos permitirmos e experienciamos o mundo, entendendo que somos seres cíclicos e estamos em constante evolução. É assim que vamos descobrindo nossas formas ideais de cuidar de si e do outro.
Você já parou para pensar se o autocuidado a que você tem se dedicado hoje, corresponde às suas próprias necessidades existenciais? Será que não está um tanto comprometido com as expectativas alheias?
Cuidar de si mesmo é muito importante, e o autocuidado pode ser peça chave no seu processo terapêutico, servindo de grande apoio para minimizar sintomas de transtornos, acalmar a mente, o corpo e até ter um tempo para si, para aproveitar a própria companhia e se conhecer melhor… Mas quando esse momento é atropelado por todas as influências sociais, normativas e externas, esse autocuidado se torna uma obrigação e pode não ser tão benéfico assim.
Se você se viu durante o texto, e acha que seu momento de autocuidado não é tão particular seu (quanto costumava achar), uma boa ideia é procurar a ajuda de um profissional especializado para lhe guiar num caminho mais íntimo e particular.
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